DIA DO TRIGO

DIA DO TRIGO

Por Candy Nunes, Sommelière de Cervejas, Mestre em Estilos, Técnica Cervejeira e apresentadora –  @candysommeliere

O PÃO “LÍQUIDO” NOSSO DE CADA DIA

A importância do trigo na vida do ser humano e no desenvolvimento da nossa civilização é absoluta. Afinal, hoje, sozinho, o trigo fornece 15% do consumo calórico global.

Presente em uma série de alimentos, o trigo é consumido diariamente pela grande maioria das pessoas ao redor do nosso planeta. Mas, sabemos que quem lê nosso blog, quer mesmo saber sobre cerveja, não é mesmo?

Vamos falar sobre a nossa bebida sagrada, sobre nosso ouro líquido, claro! Antes, entretanto, quero que você saiba umas curiosidades sobre o grão que domesticou o Homo Sapiens.

Muitos pesquisadores acreditam que: não fosse o trigo ter conquistado nossos ancestrais, o homem não teria se tornado sedentário, não teria feito a chamada Revolução Agrícola, não teria se aglomerado em cidades.

O trigo domesticou a humanidade de tal forma que não é exagero dizer que ele acabou sendo o combustível – até mesmo literalmente, em forma de calorias ingeridas – para que as civilizações fossem criadas.

QUEM PLANTOU O TRIGO NO PLANETA TERRA?

O cultivo do trigo começou a milhares a.C., em uma região conhecida como Crescente Fértil – que hoje iria do Egito ao Iraque.

Por volta de 18 mil anos atrás, com o fim da última Era Glacial, o aquecimento global provocou um período de fortes e intensas chuvas. Essa mudança climática favoreceu uma gramínea na região do Oriente Médio.

Era trigo, mas não como o conhecemos hoje.

As sementinhas eram ralas e pequenas. O vento conseguia espalhá-las – e, assim, a planta se multiplicava. Os ancestrais humanos daquela época viviam em bandos nômades. Eram caçadores-coletores – alimentavam-se basicamente de carne e frutas. 

Em algum momento dessa história – ou em vários momentos, já que uma descoberta assim não ocorre de forma tão linear -, os Homo Sapiens perceberam que havia animais que se alimentavam de gramíneas. E decidiram experimentar.

O SEMEADOR QUE LEVA PARA LONGE

O historiador Heinrich Eduard Jacob (1889-1967) em seu livro Seis Mil Anos de Pão, frisa que, naquele tempo, trigo era só mato ou gramíneas.

“Todos os cereais eram primitivamente plantas herbáceas selvagens”, escreve. “Todos os cereais foram originariamente herbáceas cujas sementes tinham um sabor de que o homem primitivo gostava. Mas o homem tinha, para além dos insetos, um rival bem mais temível que lhe estragava a colheita dessas plantas. Era o grande criador do tapete verde de ervas. O vento.” 

Se o vento espalhava as sementes – e isto garantia a perpetuação do trigo -, ele atrapalhava o homem: afinal, não era possível colher o cereal maduro, este “voava” embora antes.

Sem entender nada de genética, nossos ancestrais acabaram interferindo na evolução do trigo. “O primeiro objetivo do homem teve de ser, portanto, o de conseguir fazer com que as espécies que eram mais do seu agrado não perdessem os grãos com tanta facilidade.

E foi o que efetivamente sucedeu, já que o homem ao longo de milhares de anos foi cultivando apenas aqueles exemplares que guardavam os grãos durante mais tempo na espiga”, diz Jacob.

Foi o início do sedentarismo. O princípio da chamada Revolução Agrícola.

“No começo, talvez eles acampassem por quatro semanas durante a colheita. Na geração seguinte, com a multiplicação e o alastramento do trigo, o acampamento da colheita talvez durasse cinco semanas, depois seis, até que se tornou um assentamento permanente”, conta o historiador Yuval Noah Harari, no best-seller Sapiens: Uma Breve História da Humanidade. “Evidências de tais acampamentos foram encontradas em todo o Oriente Médio, sobretudo no Levante, onde a cultura natufiana floresceu de 12,5 mil a.C. a 9,5 mil a.C.

“- MAS E A CERVEJA, TIA CANDY?”

Ao analisar a história da cerveja, percebemos que ela é tão antiga quanto à própria história.

Os primeiros registros escritos que mencionam a cerveja foram encontrados em Sumer (Suméria), civilização situada no sudeste da antiga Mesopotâmia (agora Iraque e Kuwait), na extremidade de fluxo descendente dos rios Tigre e Eufrates.

A Suméria é o sítio da primeira linguagem escrita conhecida. O sumério e outras línguas mesopotâmicas foram escritos com símbolos chamados cuneiformes, feitos com uma caneta em forma de cunha, pressionada em pedaços de argila úmida.

A argila é durável e muitos destes documentos cuneiformes antigos sobreviveram e foram traduzidos.

Entre os mais antigos, estão os documentos escritos há 5000 anos sobre a produção e o consumo de cerveja e registram uma cultura de fabricação já madura, mostrando que a cerveja era antiga quando a escrita ainda era nova.

Uma famosa tabuinha cuneiforme de 4000 anos atrás tem um poema chamado Hino a Ninkasi, um hino de louvor à deusa suméria da cerveja.

O Hino tem um relato poético, mas não completamente compreensível de como a cerveja era feita.

Os documentos sumérios mencionam frequentemente a cerveja, especialmente no contexto das ofertas dos templos.

A cerveja também era utilizada como um ótimo veículo para administração de ervas medicinais aos doentes da época.

DA MESOPOTÂMIA AO EGITO…

A dominância sobre a região da Mesopotâmia passou de um lado para outro entre as cidades Suméricas até que foram conquistados por Hammurabi da Babilônia há 3700 anos.

A Babilônia era uma cidade no Eufrates rio acima da Suméria. A cerveja feita do emmer (uma forma antiga do trigo) era uma dos mais importantes alimentos da dieta dos Babilônios.

Depois da Babilônia veio o domínio da Assíria, governando o Oriente Médio de suas duas capitais, Assur e Nineva. Os assírios foram deslocados por uma segunda onda de babilônios, liderados por Nabucodonosor.

Essas culturas continuaram a perpetuar a tradição cervejeira da Suméria. Acredita-se que a fabricação de cerveja se difundiu da região da Mesopotâmia ao Egito, aproximadamente 1400 quilômetros distantes.

A cerveja então se tornou a bebida básica no Egito em todos os níveis, do Faraó aos camponeses. Os mortos eram enterrados com suprimentos de cerveja.

NA EUROPA…

Pouco se sabe sobre o surgimento da cerveja na Europa.

Os registros históricos do norte da Europa antes da Idade Média estão incompletos, e acredita-se que a vila neolítica de Skara Brae, nas Ilhas Orkney, na Escócia, representa a prova do início da fabricação da cerveja na Europa, há cerca de 3500-4000 anos atrás.

Yacimiento de Skara Brae, en Escocia, con la bahía de Skaill al fondo.  CC / Dg-505

As descobertas da possível criação de cerveja a 5000 quilômetros distantes da Suméria sugerem que os europeus podem ter inventado a cerveja de forma independente.

O antigo épico inglês Beowulf, escrito por volta do ano 1000, está ambientado em uma cultura heroica dinamarquesa cujos guerreiros selam sua lealdade ao rei durante um banquete, bebendo cerveja e hidromel (uma bebida alcoólica feita de mel).

NOS MONASTÉRIOS

Os monastérios europeus desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento da cerveja moderna. São Bento (~480-547), na Itália, escreveu um conjunto de regras monásticas que previam uma porção diária de vinho.

Nos monastérios da Grâ Bretanha e Irlanda, a cerveja foi permitida sob as regras de São Gildas (~504-570). São Columbano (~559-615), influenciado por Gildas, permitia cerveja para monges em mosteiros que ele fundou na França.

Os costumes monásticos se uniram quando foram convocados em 816 e 817 em Aachen, na Alemanha, e colocaram a maioria dos mosteiros da Europa Ocidental sob um único conjunto de regras.

Estas regras previam que cada monge teria direito a um “pint” (568 mL) de cerveja ou meio “pint” de vinho por dia. Os mosteiros variavam muito em tamanho indo de aproximadamente 30 até 400 monges.

A partir do final dos anos 1000, cervejeiros comerciais começaram a se instalar em cidades onde é hoje a Bélgica.

A cerveja era um produto ideal para a tributação porque era preparada em instalações especializadas em lotes de tamanho fixo e, embora fosse possível fazer alguns pares de sapatos ou rolos de lã escondidos debaixo da mesa em casa, era impossível ocultar um lote de cerveja das autoridades.

A fabricação da cerveja competia com o mesmo grão que era usado na fabricação do pão, que era visto como essencial na alimentação da população.

Esta pode ter sido a motivação para o famoso Reinheitsgebot (alemão: Reinheit, pureza + gebot, ordem).

Este regulamento, que permitia apenas cevada, lúpulo e água na fabricação da cerveja, foi emitido pela primeira vez em Munique, em 1487.

Em 1516, esta regra foi estendida a toda a Baviera (sul da Alemanha). Um dos efeitos desta regulamentação foi uma severa limitação da importação de cerveja para as regiões em que esta regulamentação se manteve.

A CERVEJA DE TRIGO ALEMÃ (BÁVARA) X A CERVEJA DE TRIGO BELGA

Para representar essas duas beldades de trigo, eu peguei firme nas escolhas.

Queria que vocês conhecessem duas cervejas que representam, perfeitamente, exemplares dos estilos de cervejas que tem o trigo como elemento central da receita.

Sabemos que existem outras cervejas com trigo, mas sem dúvida as Weiss e Wit, são as mais consumidas e amadas em todo o planeta!

Aproveito para lembrar uma diferença importante, é que as Witbiers inicialmente utilizaram o trigo cru, não maltado, diferente das Weiss que utilizam o cereal maltado.

Konig Ludwig Weissbier Hell

Ingredientes: água, malte de cevada, malte de trigo, extrato de lúpulo e levedura.

Os governantes, regentes e reis da dinastia Wittelsbach moldaram claramente o destino da Baviera e tiveram uma influência decisiva em grande parte da Europa.

Além de grandes conquistas na política e na arte, toda a cultura da cerveja pode ser rastreada até eles. O seu legado estabeleceu padrões de qualidade que ainda são considerados a referência para a cerveja genuína na história cultural da cerveja.

O duque Ludwig II “o Severo” governou a Alta Baviera a partir de 1253. Ele fez de Munique sua residência e fundou a primeira cervejaria da família da dinastia Wittelsbach em 1260.

Quando Guilherme IV e seu irmão Ludwig X assumiram os negócios de Estado na Baviera, a cerveja era um alimento básico.

Entre outros fatores, como a fervura durante o processo de fermentação matava patogênicos, a cerveja era uma bebida muito mais saudável do que a água.

Para dar sabor, várias ervas inofensivas foram adicionadas à cerveja, mas também outros ingredientes estranhos, alguns dos quais podiam ser prejudiciais ou mesmo mortais.

As autoridades da época estavam mais interessadas em regular o preço da cerveja do que os ingredientes! Para o benefício de todos os bebedores de cerveja, isso mudou quando o duque Wilhelm e o duque Ludwig promulgaram a Lei de Pureza da Baviera como parte dos regulamentos estaduais, em 1516.

Aos 25 anos, em 1975, o Príncipe Luitpold da Baviera assumiu a gestão da cervejaria da família no Castelo de Kaltenberg. Além de ser um embaixador mundial de sua cerveja, ele também dá continuidade à herança cultural.

König Ludwig Weissbier – uma das marcas Weissbier líderes na Alemanha.

Uma especialidade real da Baviera, produzida com uma cepa de levedura única, trigo maltado e cevada, e os melhores lúpulos Hallertau, de acordo com as receitas de família de Sua Alteza Real, o Príncipe Luitpold da Baviera.

Devido ao perfil preciso de fermentação e ao longo período de maturação, esta cerveja é muito espumante e refrescante, com uma espuma firme e estável e naturalmente turva com fermento.

Este extraordinário estilo de cerveja dá a primeira impressão de aromas de cravo, banana, melão e sabugueiro. O sabor refrescante enche sua boca com uma variedade de frutas, incluindo cravo, banana e melão, seguido por um lampejo de mel, que rapidamente desaparece. Esta cerveja suave, com baixíssimo amargor.

É um desafio beber apenas um copo!

Corsendonk Blanche

Ingredientes: água, malte de cevada, lúpulo, trigo não maltado, especiarias e levedura.

Desde a sua fundação em 1398, o Priorado de Corsendonk compreendeu uma cervejaria e uma casa de malte bastante importantes.

Isso pode ser visto na placa de Lucas Vosterman de 1659, que foi incluída na Corographia Sacra Brabantiae de Sanderus. Vê-se claramente os moinhos de vento, o celeiro, a casa do malte e a cervejaria com o poço ao lado.

Em 1784, o imperador austríaco Jozef II ordenou que o mosteiro e a cervejaria fossem fechados. De 1906 em diante, a tradição cervejeira de Old Turnhout foi continuada por Antonius Keersmaekers e em sua cervejaria a famosa cerveja Pater foi fabricada.

Foi especialmente a partir de 1982 que a cerveja Corsendonk se tornou famosa.

A própria cerveja e as garrafas tornaram-se marcas registradas. A simplicidade do design das garrafas lembra o início da Idade Média. As vendas passaram de 840.000 garrafas em 1982 para 9 milhões em 1990.

Corsendonk Blanche, uma cerveja branca refrescante que mata a sede, é produzida com os melhores ingredientes nas Ardenas belgas e repleta de cerveja não filtrada. Possui aromas frutados, uma fragrância sutil de coentro mesclada com notas de laranja. Estas ervas são agradáveis ​​ao paladar e fazem da Corsendonk Blanche uma cerveja suave e refrescante.

Paulistânia Laralima

Ingredientes: água, malte de cevada, malte de trigo, aveia, extrato natural de laranja e limão.

Agora preciso falar de uma coisa importante, o mais novo lançamento da Cervejaria Paulistânia, a deliciosa Laralima!

A história da LARALIMA começa com a vinda das plantas cítricas, ricas em vitamina C, nos navios portugueses com o objetivo de aumentar a imunidade e saúde dos tripulantes na época das grandes navegações.

A adaptação a terra Brasilis foi imediata. Atualmente, o Cinturão Citrícola Paulista é o maior produtor de laranjas do mundo! Parte da produção sai do coração do estado, diretamente para a maior central de abastecimento de hortifrútis, grãos, especiarias e flores da América Latina – CEAGESP e para o Mercado Municipal de São Paulo.

O Mercadão, como é chamado carinhosamente, com a sua importância histórica e arquitetônica e o colorido dos seus icônicos vitrais emprestaram seus tons neste rótulo. 

E dessa combinação de sabores, aromas e cores surge nossa Witbier: trigo, laranja, limão e coentro. Leve, refrescante e aromática. Maravilhosa! Uma verdadeira homenagem a Ceres – deusa da Agricultura e responsável pela origem do nome do nosso líquido tão amado.

Você pode encontrar maravilhosos exemplares de cervejas de trigo, além das delícias que citei, acima, se você entrar agora no site da Confraria Paulistânia Store e fizer sua seleção!

Deixe nos comentários quais foram as suas escolhas e a sua experiência palatável.



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