PARIS 1 – “JE VEUX T’ACHETER UNE BIÈRE”

PARIS 1 – “JE VEUX T’ACHETER UNE BIÈRE”

Por Luiz Caropreso, professor, sommelier, escritor, consultor e colunista para a área de cervejas. Diretor da BeerBiz Cultura Cervejeira.

Olá meus amigos fãs das boas cervejas “bierundweinrianas”.

Tenho aproveitado este espaço para compartilhar com vocês minhas aventuras “zitogastronômicas” (como já expliquei, o prefixo “zito” refere-se a cervejas). Dessa vez quero falar sobre minha primeira viagem com esse propósito a Paris.

Eu voltava de uma feira da área gráfica em Düsseldorf, onde havia, por sinal, bebido muita Altbier. Foram 25 dias na Alemanha, de traje social. Levei uma mala enorme, só com ternos, gravatas, camisas e sapatos sociais pois, além de tudo, não era bem visto pela minha diretoria ficar repetindo muito as roupas.

Além dessa “malona” eu carregava uma mochila e outra mala, bem menor, com roupas casuais. Estava viajando com um amigo. Trabalhávamos juntos no Brasil e fomos representar nossa associação naquela feira em Düsseldorf.

PARA PARIS SEM ESCALAS

Havíamos planejado passar 5 dias em Paris e ali nos encontrávamos, muito cansados mas extremamente felizes, no Aeroporto de Paris Charles De Gaule. A partir dali parecia que tudo seria só alegria.

Acredito que devia ser por volta de uma da manhã mas decidimos tomar a primeira cerveja ali mesmo no aeroporto. Encontramos um bar que vendia vinhos, cervejas, queijos e charcutaria. Pedi uma porção mista com um salame que tinha queijo roquefort na massa e um pedaço de queijo chèvre, de cabra, com casca de mofo brancos, como a do camembert.

Para acompanhar, eles tinham a 8.6 Red.

Aqui vale um parêntesis. A 8.6 é uma cerveja Holandesa que tem esse nome por conta do seu teor alcoólico original. Numa determinada ocasião o governo criou uma lei que, para a bebida ser classificada como cerveja deveria ter menos de 8% de ABV.

Como a 8.6 já era muito conhecida, os proprietários decidiram baixar o ABV para 7,9%, mas manter o nome. Voltando ao aeroporto…

Conheça tudo sobre a: 8.6 O MÁXIMO EM CERVEJA!

Que combinação deliciosa! O dulçor,  os caramelos e tostados da cerveja contrastando com o salgado e o lácteo do queijo, e com os condimentos e sabores pungentes do salame. Para mim esse era o prenúncio de uma temporada deliciosa.

PARIS: ARTE, COMIDA E CERVEJA!

Saímos dali e, como havíamos combinado iríamos nos locomover apenas de transporte público pois já sabíamos que táxi ou Uber na França eram caros. Nos dirigimos a uma escada rolante que levaria à plataforma de integração com o metrô.

A rede metroviária de Paris atende praticamente todos os cantos da cidade. Ao chegar na base da escada, o primeiro entrave. Havia uma barreira de cilindros metálicos chumbados no chão e o carrinho com minha bagagem não passava por conta das dimensões da tal “malona”.

Empurra daqui, força de lá e um segurança começa a se aproximar com cara de reprovação. Ele falava em francês,  eu respondia em inglês, espanhol, português e nada de nos entendermos. Por fim, a linguagem universal dos sinais se mostrou eficiente.

O segurança apontou para uma placa que dizia Táxi.  A gente não estava querendo gastar com isso, mas não teve jeito e lá fomos nós para o ponto de táxi. Havia uma fila de veículos à espera de passageiros e éramos os terceiros. Menos mal, pensei comigo mesmo.

Malas acondicionadas no táxi, entramos e falei ao condutor: Hotel Viator, Rue des Molines.

FIZ UM TAXISTA FRANCÊS FELIZ…

O motorista meio que arregalou os olhos e em seguida sorriu e disse: “Oui, c’est un peu lointain. Allez!” Essa frase me impactou muito. O hotel ficava distante…

Imaginei uma parte de meus suados Euros se esvaindo naquela corrida.

O trajeto durou mais ou menos meia hora mas, ao menos, consegui ver um pouco de Paris à noite.

Me lembro de passar em frente ao Moulin Rouge por exemplo.

Conforme nos aproximávamos do hotel as ruas iam ficando cada vez mais estreitas a ponto de o táxi quase não conseguir passar. A Rue dês Molines era assim. Carros estacionados em ambos os lados, estrangulavam a faixa de rolagem.

Acredito que estávamos a uns 5 km por hora mas, enfim, avistamos o hotel.

Nosso gentil motorista descarregou nossa bagagem na calçada e adentramos o saguão do hotel.

Chamar aquilo de saguão era um grande exagero. Uma saleta com uma mesa, 2 cadeiras, um balcão meio bambo, uma geladeira vertical vazia e ninguém na recepção.

Nem uma mísera cerveja.

Nem uma mísera sineta.

A essa altura já se passavam das 3 da manhã e estávamos podres de cansaço.

Comecei a chamar suavemente: tem alguém aqui?

Monsieur!!! Madamme???

Nada…

AÍ O SADDAM APARECEU…

Depois de 10 minutos eu já estava aos berros. E eis que surge ao pé da escada um sujeito com cara de sono, muito parecido com Saddam Hussein.

Falei que éramos brasileiros e tínhamos feito uma reserva. “Saddam” consultou um caderno e disse.

Fachada do Hotel Viator em Paris

“Ok. Seu quarto fica no terceiro andar.

O banheiro para suas necessidades fica no corredor e o banho é aqui”, apontando para um cubículo que ficava atrás de uma porta tipo vai e vem que deixava pernas e cabeça à  mostra.

Fiquei pasmo!😲

Na Internet a foto do hotel mostrava um quarto com 2 camas, banheiro e vista para a rua.

Argumentei o quanto pude mas Saddam não me entendia, ou fingia isso.

Perguntei onde poderia deixar a mala enorme e ele apontou uma escadaria muito estreita e com degraus sem padrão, de alturas diferentes, que levava à lavanderia.

Desci quase que empurrado pela gravidade, carregando aquele peso enorme e deixei a mala ali. Mesmo achando que ela seria arrombada, resolvi ir pro quarto para enfim descansar.

Chegamos no quarto e as surpresas não terminavam.

Só havia uma cama, e cama de solteiro.

A janela dava para uma chaminé de onde vinha um cheiro muito forte de curry.

A mobília tinha 3 prateleiras e um televisor muito pequeno.

Liguei para minha agente de viagens no Brasil e pedi providências.

Devo ter ficado quase uma hora no telefone e nada. Nenhuma solução.

Naquela altura, resolvemos tratar de dormir, um na cama e outro no chão e tentar outro lugar no dia seguinte.

DE REPENTE SADDAM APRENDE INGLÊS

Às 6 da manhã estávamos de pé na recepção.

Saddam, atrás do balcão, abre um sorriso e diz: resolvi o problema de vocês.

Desocupou uma suíte no primeiro andar.

E não é que de repente ele passou a falar em inglês!

Nem esperei terminar, peguei a chave, recolhemos nossa bagagem no quarto das chaminés e fomos para nossa suíte.

Vocês nem imaginam o valor de um banho quente numa hora dessas.

Descemos prontos para um belo café da manhã e, enfim, conhecer Paris.

Saddam nos deu um mapa da cidade onde constavam os principais pontos turísticos da cidade e indicou uma boulangerie na rua do hotel, pertinho da estação Brochant do metrô.

Não preciso falar da patisserie francesa né?

Nos fartamos com croissants, brioches e tartes e fomos à luta.

A primeira parada seria a famosíssima torre Eiffel, o mais famoso marco da revolução industrial. O coração pulsava de emoção.

Visitando a Torre Eifel em Paris

Compramos nossos ingressos para poder visitar tudo, até o último estágio.

EIFFEL, LOUVRE E CERVEJA

No ponto mais alto fizemos um brinde com duas garrafas de Samichlaus Classic, a Doppelbock que já foi considerada a lager mais alcoólica do mundo, que eu havia escondido no casaco.

Tomando uma Samichlaus em Paris

Esqueci de dizer que fazia frio e lá em cima da torre, mais frio ainda.

Esses sabores maltados e caramelados da Samichlaus sempre me remetem ao Natal.

A cerveja desceu aquecendo o corpo e afagando a alma.

Descemos da Eiffel já mais aquecidos e decidimos passar a tarde no Louvre.

Antes de entrar fizemos uma boquinha.

Tomando uma Eggenberg em Paris

Um trailer estacionado nos jardins do museu vendia sanduíches, crepes e gaufres.

Os crepes parecem nossa panqueca mas têm a massa um pouquinho mais grossa. Não costumam ter muito recheio e podem ser doces ou salgados.

Os gaufres se parecem com os waffles e também podem ter várias coberturas.

Comi um crepe com queijo boursin bem cremoso, levemente ácido, e harmonizei com uma refrescante Eggenberg Hopfenkonig, com seus inebriantes aromas de lúpulo.

Saiba mais sobre a Eggenberg: A LAGER MAIS POTENTE DO MUNDO!

A tarde foi um banho de cultura com direito a Van Goghs, Dalis, Picassos, sem falar das famosíssimas Vênus de Milo e Mona Lisa.

Vênus de Milo no museu do Louvre em Paris

Saímos de lá satisfeitos culturalmente – mesmo não tendo visitado nem metade do museu – mas sedentos e famintos.

Pegamos o metrô ao lado do Louvre e em 20 minutos já estávamos na estação de destino.

Na saída para a Avenue Clichy, demos de cara com um simpático restaurante. Nem pensamos 2 vezes e entramos.

JANTAR E BOTECO

O maitre nos encaminhou a uma mesa e ofereceu os cardápios. Finalmente, vi um prato que estava louco para experimentar: Confit de Canard. Trata-se de coxa e sobrecoxa de Pato confitadas, cozidas lentamente na gordura da própria ave, com suave tempero de ervas.

Tomando uma 8,6 em Paris

Nesse caso vinha guarnecida de aligot – um purê de batatas misturado com queijo, até ficar com uma consistência muito cremosa e meio “puxa-puxa”.

Para enfrentar o “gorduroso” pato, uma 8.6 Original.

Essa Strong Lager traz, além de 7,9% de teor alcoólico, uma leve acidez que consegue limpar muito bem o palato após uma e outra garfada do pato.

O jantar fechou o dia majestoso.

Decidimos caminhar até o hotel e só então percebemos que bem em frente ao Viator havia um boteco. Um boteco francês. Que oportunidade!

Resolvemos tomar a saideira. Encostamos no balcão e gastei novamente meu francês “basicão”.

  • Une bière, s’il vous plaît

O balconista sorriu gentilmente e mostrou as torneiras de chope.

Uma delas brilhou para mim. Era uma torneira de chope Praga, uma das melhores Bohemian Pilsner que conheço.

MEU AMIGO FRANCÊS

Quando estava tentando dizer que era o que eu queria, balbuciando algo como “cette ici”, ouvi uma voz meio rouca dizendo:

  • Brésiliens, n’est-ce pas?

Olhei pro lado e um cidadão meio embriagado, com aparência de morador de rua, olhava pra gente com um sorriso de lado, e sobrancelha levantada. Respondi meio constrangido apenas “Oui”.

Ele bateu a mão no balcão e disse:

  • Je veux t’acheter une bière (eu vou te pagar uma cerveja)

Não sabia o que dizer e respondi

  • Merci mais tu n’as pas d’argent (obrigado, você não tem dinheiro)

O homem virou um bicho. Começou a gritar frases que eu não consegui entender, enfiou a mão no bolso e pensei, pronto, vou levar um tiro num boteco na França. 

Mas ao invés de uma arma, meu mais novo amigo tirou um bolo de Euros, muito amassados, colocou sobre o balcão e disse pro atendente: uma cerveja para mim e uma para cada um de meus amigos brasileiros.

Brindamos, tomei a cerveja Praga apreciando os aromas e refrescância do lúpulo Saaz. Me despedi com um “merci beaucoup” e fomos pro hotel pra uma ducha e uma boa noite de sono…

Continuo no mês que vem…

Todas as cervejas que citei, e mais um portfólio delicioso você encontra em bares e restaurantes no Brasil e na Loja Online da Confraria Paulistânia Store.

Santè!🍻🍻🍻



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