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DIA DO TRIGO

DIA DO TRIGO

Por Candy Nunes, Sommelière de Cervejas, Mestre em Estilos, Técnica Cervejeira e apresentadora –  @candysommeliere

O PÃO “LÍQUIDO” NOSSO DE CADA DIA

A importância do trigo na vida do ser humano e no desenvolvimento da nossa civilização é absoluta. Afinal, hoje, sozinho, o trigo fornece 15% do consumo calórico global.

Presente em uma série de alimentos, o trigo é consumido diariamente pela grande maioria das pessoas ao redor do nosso planeta. Mas, sabemos que quem lê nosso blog, quer mesmo saber sobre cerveja, não é mesmo?

Vamos falar sobre a nossa bebida sagrada, sobre nosso ouro líquido, claro! Antes, entretanto, quero que você saiba umas curiosidades sobre o grão que domesticou o Homo Sapiens.

Muitos pesquisadores acreditam que: não fosse o trigo ter conquistado nossos ancestrais, o homem não teria se tornado sedentário, não teria feito a chamada Revolução Agrícola, não teria se aglomerado em cidades.

O trigo domesticou a humanidade de tal forma que não é exagero dizer que ele acabou sendo o combustível – até mesmo literalmente, em forma de calorias ingeridas – para que as civilizações fossem criadas.

QUEM PLANTOU O TRIGO NO PLANETA TERRA?

O cultivo do trigo começou a milhares a.C., em uma região conhecida como Crescente Fértil – que hoje iria do Egito ao Iraque.

Por volta de 18 mil anos atrás, com o fim da última Era Glacial, o aquecimento global provocou um período de fortes e intensas chuvas. Essa mudança climática favoreceu uma gramínea na região do Oriente Médio.

Era trigo, mas não como o conhecemos hoje.

As sementinhas eram ralas e pequenas. O vento conseguia espalhá-las – e, assim, a planta se multiplicava. Os ancestrais humanos daquela época viviam em bandos nômades. Eram caçadores-coletores – alimentavam-se basicamente de carne e frutas. 

Em algum momento dessa história – ou em vários momentos, já que uma descoberta assim não ocorre de forma tão linear -, os Homo Sapiens perceberam que havia animais que se alimentavam de gramíneas. E decidiram experimentar.

O SEMEADOR QUE LEVA PARA LONGE

O historiador Heinrich Eduard Jacob (1889-1967) em seu livro Seis Mil Anos de Pão, frisa que, naquele tempo, trigo era só mato ou gramíneas.

“Todos os cereais eram primitivamente plantas herbáceas selvagens”, escreve. “Todos os cereais foram originariamente herbáceas cujas sementes tinham um sabor de que o homem primitivo gostava. Mas o homem tinha, para além dos insetos, um rival bem mais temível que lhe estragava a colheita dessas plantas. Era o grande criador do tapete verde de ervas. O vento.” 

Se o vento espalhava as sementes – e isto garantia a perpetuação do trigo -, ele atrapalhava o homem: afinal, não era possível colher o cereal maduro, este “voava” embora antes.

Sem entender nada de genética, nossos ancestrais acabaram interferindo na evolução do trigo. “O primeiro objetivo do homem teve de ser, portanto, o de conseguir fazer com que as espécies que eram mais do seu agrado não perdessem os grãos com tanta facilidade.

E foi o que efetivamente sucedeu, já que o homem ao longo de milhares de anos foi cultivando apenas aqueles exemplares que guardavam os grãos durante mais tempo na espiga”, diz Jacob.

Foi o início do sedentarismo. O princípio da chamada Revolução Agrícola.

“No começo, talvez eles acampassem por quatro semanas durante a colheita. Na geração seguinte, com a multiplicação e o alastramento do trigo, o acampamento da colheita talvez durasse cinco semanas, depois seis, até que se tornou um assentamento permanente”, conta o historiador Yuval Noah Harari, no best-seller Sapiens: Uma Breve História da Humanidade. “Evidências de tais acampamentos foram encontradas em todo o Oriente Médio, sobretudo no Levante, onde a cultura natufiana floresceu de 12,5 mil a.C. a 9,5 mil a.C.

“- MAS E A CERVEJA, TIA CANDY?”

Ao analisar a história da cerveja, percebemos que ela é tão antiga quanto à própria história.

Os primeiros registros escritos que mencionam a cerveja foram encontrados em Sumer (Suméria), civilização situada no sudeste da antiga Mesopotâmia (agora Iraque e Kuwait), na extremidade de fluxo descendente dos rios Tigre e Eufrates.

A Suméria é o sítio da primeira linguagem escrita conhecida. O sumério e outras línguas mesopotâmicas foram escritos com símbolos chamados cuneiformes, feitos com uma caneta em forma de cunha, pressionada em pedaços de argila úmida.

A argila é durável e muitos destes documentos cuneiformes antigos sobreviveram e foram traduzidos.

Entre os mais antigos, estão os documentos escritos há 5000 anos sobre a produção e o consumo de cerveja e registram uma cultura de fabricação já madura, mostrando que a cerveja era antiga quando a escrita ainda era nova.

Uma famosa tabuinha cuneiforme de 4000 anos atrás tem um poema chamado Hino a Ninkasi, um hino de louvor à deusa suméria da cerveja.

O Hino tem um relato poético, mas não completamente compreensível de como a cerveja era feita.

Os documentos sumérios mencionam frequentemente a cerveja, especialmente no contexto das ofertas dos templos.

A cerveja também era utilizada como um ótimo veículo para administração de ervas medicinais aos doentes da época.

DA MESOPOTÂMIA AO EGITO…

A dominância sobre a região da Mesopotâmia passou de um lado para outro entre as cidades Suméricas até que foram conquistados por Hammurabi da Babilônia há 3700 anos.

A Babilônia era uma cidade no Eufrates rio acima da Suméria. A cerveja feita do emmer (uma forma antiga do trigo) era uma dos mais importantes alimentos da dieta dos Babilônios.

Depois da Babilônia veio o domínio da Assíria, governando o Oriente Médio de suas duas capitais, Assur e Nineva. Os assírios foram deslocados por uma segunda onda de babilônios, liderados por Nabucodonosor.

Essas culturas continuaram a perpetuar a tradição cervejeira da Suméria. Acredita-se que a fabricação de cerveja se difundiu da região da Mesopotâmia ao Egito, aproximadamente 1400 quilômetros distantes.

A cerveja então se tornou a bebida básica no Egito em todos os níveis, do Faraó aos camponeses. Os mortos eram enterrados com suprimentos de cerveja.

NA EUROPA…

Pouco se sabe sobre o surgimento da cerveja na Europa.

Os registros históricos do norte da Europa antes da Idade Média estão incompletos, e acredita-se que a vila neolítica de Skara Brae, nas Ilhas Orkney, na Escócia, representa a prova do início da fabricação da cerveja na Europa, há cerca de 3500-4000 anos atrás.

Yacimiento de Skara Brae, en Escocia, con la bahía de Skaill al fondo.  CC / Dg-505

As descobertas da possível criação de cerveja a 5000 quilômetros distantes da Suméria sugerem que os europeus podem ter inventado a cerveja de forma independente.

O antigo épico inglês Beowulf, escrito por volta do ano 1000, está ambientado em uma cultura heroica dinamarquesa cujos guerreiros selam sua lealdade ao rei durante um banquete, bebendo cerveja e hidromel (uma bebida alcoólica feita de mel).

NOS MONASTÉRIOS

Os monastérios europeus desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento da cerveja moderna. São Bento (~480-547), na Itália, escreveu um conjunto de regras monásticas que previam uma porção diária de vinho.

Nos monastérios da Grâ Bretanha e Irlanda, a cerveja foi permitida sob as regras de São Gildas (~504-570). São Columbano (~559-615), influenciado por Gildas, permitia cerveja para monges em mosteiros que ele fundou na França.

Os costumes monásticos se uniram quando foram convocados em 816 e 817 em Aachen, na Alemanha, e colocaram a maioria dos mosteiros da Europa Ocidental sob um único conjunto de regras.

Estas regras previam que cada monge teria direito a um “pint” (568 mL) de cerveja ou meio “pint” de vinho por dia. Os mosteiros variavam muito em tamanho indo de aproximadamente 30 até 400 monges.

A partir do final dos anos 1000, cervejeiros comerciais começaram a se instalar em cidades onde é hoje a Bélgica.

A cerveja era um produto ideal para a tributação porque era preparada em instalações especializadas em lotes de tamanho fixo e, embora fosse possível fazer alguns pares de sapatos ou rolos de lã escondidos debaixo da mesa em casa, era impossível ocultar um lote de cerveja das autoridades.

A fabricação da cerveja competia com o mesmo grão que era usado na fabricação do pão, que era visto como essencial na alimentação da população.

Esta pode ter sido a motivação para o famoso Reinheitsgebot (alemão: Reinheit, pureza + gebot, ordem).

Este regulamento, que permitia apenas cevada, lúpulo e água na fabricação da cerveja, foi emitido pela primeira vez em Munique, em 1487.

Em 1516, esta regra foi estendida a toda a Baviera (sul da Alemanha). Um dos efeitos desta regulamentação foi uma severa limitação da importação de cerveja para as regiões em que esta regulamentação se manteve.

A CERVEJA DE TRIGO ALEMÃ (BÁVARA) X A CERVEJA DE TRIGO BELGA

Para representar essas duas beldades de trigo, eu peguei firme nas escolhas.

Queria que vocês conhecessem duas cervejas que representam, perfeitamente, exemplares dos estilos de cervejas que tem o trigo como elemento central da receita.

Sabemos que existem outras cervejas com trigo, mas sem dúvida as Weiss e Wit, são as mais consumidas e amadas em todo o planeta!

Aproveito para lembrar uma diferença importante, é que as Witbiers inicialmente utilizaram o trigo cru, não maltado, diferente das Weiss que utilizam o cereal maltado.

Konig Ludwig Weissbier Hell

Ingredientes: água, malte de cevada, malte de trigo, extrato de lúpulo e levedura.

Os governantes, regentes e reis da dinastia Wittelsbach moldaram claramente o destino da Baviera e tiveram uma influência decisiva em grande parte da Europa.

Além de grandes conquistas na política e na arte, toda a cultura da cerveja pode ser rastreada até eles. O seu legado estabeleceu padrões de qualidade que ainda são considerados a referência para a cerveja genuína na história cultural da cerveja.

O duque Ludwig II “o Severo” governou a Alta Baviera a partir de 1253. Ele fez de Munique sua residência e fundou a primeira cervejaria da família da dinastia Wittelsbach em 1260.

Quando Guilherme IV e seu irmão Ludwig X assumiram os negócios de Estado na Baviera, a cerveja era um alimento básico.

Entre outros fatores, como a fervura durante o processo de fermentação matava patogênicos, a cerveja era uma bebida muito mais saudável do que a água.

Para dar sabor, várias ervas inofensivas foram adicionadas à cerveja, mas também outros ingredientes estranhos, alguns dos quais podiam ser prejudiciais ou mesmo mortais.

As autoridades da época estavam mais interessadas em regular o preço da cerveja do que os ingredientes! Para o benefício de todos os bebedores de cerveja, isso mudou quando o duque Wilhelm e o duque Ludwig promulgaram a Lei de Pureza da Baviera como parte dos regulamentos estaduais, em 1516.

Aos 25 anos, em 1975, o Príncipe Luitpold da Baviera assumiu a gestão da cervejaria da família no Castelo de Kaltenberg. Além de ser um embaixador mundial de sua cerveja, ele também dá continuidade à herança cultural.

König Ludwig Weissbier – uma das marcas Weissbier líderes na Alemanha.

Uma especialidade real da Baviera, produzida com uma cepa de levedura única, trigo maltado e cevada, e os melhores lúpulos Hallertau, de acordo com as receitas de família de Sua Alteza Real, o Príncipe Luitpold da Baviera.

Devido ao perfil preciso de fermentação e ao longo período de maturação, esta cerveja é muito espumante e refrescante, com uma espuma firme e estável e naturalmente turva com fermento.

Este extraordinário estilo de cerveja dá a primeira impressão de aromas de cravo, banana, melão e sabugueiro. O sabor refrescante enche sua boca com uma variedade de frutas, incluindo cravo, banana e melão, seguido por um lampejo de mel, que rapidamente desaparece. Esta cerveja suave, com baixíssimo amargor.

É um desafio beber apenas um copo!

Corsendonk Blanche

Ingredientes: água, malte de cevada, lúpulo, trigo não maltado, especiarias e levedura.

Desde a sua fundação em 1398, o Priorado de Corsendonk compreendeu uma cervejaria e uma casa de malte bastante importantes.

Isso pode ser visto na placa de Lucas Vosterman de 1659, que foi incluída na Corographia Sacra Brabantiae de Sanderus. Vê-se claramente os moinhos de vento, o celeiro, a casa do malte e a cervejaria com o poço ao lado.

Em 1784, o imperador austríaco Jozef II ordenou que o mosteiro e a cervejaria fossem fechados. De 1906 em diante, a tradição cervejeira de Old Turnhout foi continuada por Antonius Keersmaekers e em sua cervejaria a famosa cerveja Pater foi fabricada.

Foi especialmente a partir de 1982 que a cerveja Corsendonk se tornou famosa.

A própria cerveja e as garrafas tornaram-se marcas registradas. A simplicidade do design das garrafas lembra o início da Idade Média. As vendas passaram de 840.000 garrafas em 1982 para 9 milhões em 1990.

Corsendonk Blanche, uma cerveja branca refrescante que mata a sede, é produzida com os melhores ingredientes nas Ardenas belgas e repleta de cerveja não filtrada. Possui aromas frutados, uma fragrância sutil de coentro mesclada com notas de laranja. Estas ervas são agradáveis ​​ao paladar e fazem da Corsendonk Blanche uma cerveja suave e refrescante.

Paulistânia Laralima

Ingredientes: água, malte de cevada, malte de trigo, aveia, extrato natural de laranja e limão.

Agora preciso falar de uma coisa importante, o mais novo lançamento da Cervejaria Paulistânia, a deliciosa Laralima!

A história da LARALIMA começa com a vinda das plantas cítricas, ricas em vitamina C, nos navios portugueses com o objetivo de aumentar a imunidade e saúde dos tripulantes na época das grandes navegações.

A adaptação a terra Brasilis foi imediata. Atualmente, o Cinturão Citrícola Paulista é o maior produtor de laranjas do mundo! Parte da produção sai do coração do estado, diretamente para a maior central de abastecimento de hortifrútis, grãos, especiarias e flores da América Latina – CEAGESP e para o Mercado Municipal de São Paulo.

O Mercadão, como é chamado carinhosamente, com a sua importância histórica e arquitetônica e o colorido dos seus icônicos vitrais emprestaram seus tons neste rótulo. 

E dessa combinação de sabores, aromas e cores surge nossa Witbier: trigo, laranja, limão e coentro. Leve, refrescante e aromática. Maravilhosa! Uma verdadeira homenagem a Ceres – deusa da Agricultura e responsável pela origem do nome do nosso líquido tão amado.

Você pode encontrar maravilhosos exemplares de cervejas de trigo, além das delícias que citei, acima, se você entrar agora no site da Confraria Paulistânia Store e fizer sua seleção!

Deixe nos comentários quais foram as suas escolhas e a sua experiência palatável.

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TOUR CERVEJEIRA BRASIL – PARTE 1

TOUR CERVEJEIRA BRASIL – PARTE 1

Por Luiz Caropreso, professor, sommelier, escritor, consultor e colunista para a área de cervejas. Diretor da BeerBiz Cultura Cervejeira.

Vejam esta maravilha de cenário…

É assim que começa o samba enredo que Silas de Oliveira compôs para a Império Serrano e ficou apenas em 4° lugar no carnaval de 1964. Mas em 2004, a escola ganhou o Estandarte de Ouro de Melhor Escola e Melhor Samba Enredo, na reedição de Aquarela Brasileira. Curiosamente quem popularizou a música foi Martinho da Vila que, como diz o nome artístico, pertence à Vila Isabel.

Só para concluir o assunto samba e carnaval, este foi uma homenagem à Aquarela do Brasil, um clássico de Ary Barroso.

Mas, na verdade, todo esse blá-blá-blá vai servir como pano de fundo e inspiração para lhes contar algumas aventuras “zitogastronômicas” (já expliquei esse termo em um de meus textos neste blog – confira aqui) que experimentei Brasil afora.

1a TOUR CERVEJEIRA BRASIL

Na dúvida de “por onde começar”, uma vez que já tive a oportunidade de percorrer nosso país de fora a fora, escolhi uma viagem que fiz com meu amigo Toninho, para conhecermos algumas cidades da antiga Rota do Ouro de Minas Gerais.

Como era muita coisa para se conhecer escolhemos visitar as cidades de Congonhas, Tiradentes, Sabará, Mariana e Ouro Preto.

Fizemos todo o planejamento para nos hospedarmos da maneira mais conveniente, levando em conta a aventura e economia (evitamos hotéis e reservamos leitos em pensões e pousadas).

Carro, mochila e geladeira…

No carro levamos apenas nossas mochilas, uma geladeira elétrica que funcionava ligada nas baterias do veículo e várias garrafas de cervejas que compramos na loja online da Confraria Paulistânia.

Nosso objetivo era harmonizar comidas mineiras com cervejas boas.

Como não conhecíamos as estradas decidimos viajar num Jeep 4×4 que o Toninho havia reformado para esse fim.

Congonhas faz parte da 1a TOUR CERVEJEIRA BRASIL
Congonhas – No Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, os 12 profetas esculpidos em pedra sabão por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, parecem fazer uma intermediação entre a realidade terrena e as esferas celestes. (ref. lugares de memoria)

PRIMEIRA PARADA – CONGONHAS

Saímos cedinho de São Paulo em direção a Congonhas (que eu conhecia como Congonhas do Campo) em Minas Gerais. Mais ou menos às 2 da tarde chegamos a cidade. Fizemos check-in na pousada que havíamos reservado, tomamos um banho rápido e saímos.

Estávamos “varados de fome”. Na recepção nos indicaram um restaurante típico, que ficava aberto até mais tarde, chamado Casa da Ladeira, na rua Dr. Paulo Mendes 649.

O estabelecimento funciona num antigo casarão colonial restaurado, muito lindo.

A primeira coisa que fiz foi entrar e conversar com o gerente, pois minha intenção era harmonizar todos os pratos de nossa viagem com as cervejas que havíamos levado.

Recebi sua autorização e ele gentilmente nos ofereceu um balde com gelo, para colocarmos nossas garrafas.

Em seu cardápio tinha frango com quiabo, um prato que adoro.

Garçon, traz frango com quiabo e um abridor, por favor!

Para harmonizar, e começar com chave de ouro, levei umas Urthel Hop-it.

Os mineiros sabem preparar a leguminosa. O quiabo tem a famosa “baba” que muita gente não aprecia. Eles passam os frutos em uma frigideira de ferro, sem óleo, até que fique um pouco chamuscado.

Após esse processo, é adicionado ao frango refogado e permanece com uma textura crocante por fora e macia por dentro. A combinação com a Belgian IPA ficou deliciosa. Parece que o quiabo conversa com os lúpulos e o amargor residual da cerveja harmonizou por semelhança com o do legume.

Para finalizar continuamos com a Urthel e pedimos um doce de abóbora em calda. Essa vocês precisam provar.

Durante o resto da tarde fomos conhecer uma das principais obras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho – os 12 profetas – que se encontram no adro do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Os trabalhos de Aleijadinho, esculpidos em pedra sabão, ganharam fama mundo afora e realmente merecem ser conhecidos.

Aleijadinho - os 12 profetas  - Congonhas

No final da tarde, partimos para Tiradentes, uma cidadezinha pequena e aconchegante, a menos de 3 km de Congonhas, chegamos na cidade por volta das 19h.

SEGUNDA PARADA – TIRADENTES

Nossa intenção era arrumar uma pousada por lá e no dia seguinte partir para conhecer Sabará e Mariana. Tiradentes é uma cidade muito pequena. O centro Histórico praticamente se resume a uma ladeira que termina na Igreja Matriz de Santo Antônio.

Tiradentes faz parte da 1a TOUR CERVEJEIRA BRASIL
Uma das mais belas construções barrocas do país, a Igreja Matriz de Santo Antônio foi construída no ano de 1710.

Ficamos em uma pousada instalada em outro casarão centenário, a Pousada do Ó. e só para variar…estávamos com fome.

Perguntei ao recepcionista onde poderíamos provar uma comida típica mineira, bem caseira. Ele nos indicou um restaurantezinho a menos de 500 metros dali. O lugar tinha mesmo jeito de ser charmosamente simples.

Já da entrada pude avistar um fogão à lenha, o que me deixou muito animado. O cardápio não tinha muitos itens. Pedimos uma porção de Torresmos e Bambá de Couve.

Essa receita varia um pouco de lugar para lugar mas, em resumo, trata-se de um angu (tipo de polenta mole), com costelinhas e linguiças fritas e couve refogada.

Os tradicionais servem tudo misturado. Restaurantes “metidos a besta” servem os itens separados. Graças aos céus estávamos numa casa que respeitava as tradições.

Olha o Eddie aí, uai!

Os torresmos chegaram antes. Pururucados, sequinhos, no ponto certo para encarar as Trooper Ipa que havia levado. Em seguida entra em cena o Bambá de Couve, e escolhi a La Trappe Witte para o desafio.

As combinações foram muito certeiras!

A Trooper IPA tem um amargor que deu sustentação para o salgado dos torresmo e o amargor, somado à boa carbonatação, cortava completamente a gordura dos torresmos.  Já a La Trappe Witte trouxe uma acidez deliciosa. Parecia que havíamos pingado umas gotinhas de limão nas costelinhas e linguiças suínas.

Nossa sobremesa foi uma bela fatia de queijo meia cura acompanhado com goiabada de colher. Para arrematar, um cafezinho feito com grãos de uma fazenda local, passado no coador de pano e servido em lindas xícaras esmaltadas.

Saímos mais que satisfeitos e caminhamos até a pousada para o sono dos justos.

No dia seguinte, após um café da manhã com direito a pão de queijo e bolo caseiro de fubá, resolvemos dar uma circulada pelo centro histórico da cidade, que como disse se resume a uma rua.

TERCEIRA PARADA – SABARÁ

Visitamos dois museus, a Igreja de Santo Antônio e partimos rumo à Sabará. Como li em algum lugar, ali a simplicidade se rende à magnitude da arte barroca.

Sabará faz parte da 1a TOUR CERVEJEIRA BRASIL
Casa da Real Intendência e Fundição do Ouro de Sabará – Museu do Ouro

Aliás, vale destacar que além das experiências gastronômicas, nessa viagem tomamos um verdadeiro banho de arte barroca e arte sacra. Confesso nunca ter visto tanto ouro, seja em peças ou folheando altares e imagens.

Pois bem, havíamos reservado um quarto na pousada Sabará. Como sempre, fizemos o check in rapidamente e saímos em busca de um restaurante bem típico.

Nossos anjos da guarda são os recepcionistas das pousadas. Dessa vez nosso amigo nos indicou o Restaurante, Alambique e Armazém Jotapê.

Esse estabelecimento tem um buffet de pratos e quitutes típicos de Minas que ficam dispostos num balcão em torno de um fogão à lenha. Tentei ser moderado, mas não resisti aos acepipes.

Trem bão demais da conta, sô!

Torresmos, linguiças e moelas de galinha na cerveja para começar. Eu havia levado duas garrafas de Baladin Nora, a exótica cerveja que leva mirra entre seus adjuntos e iniciamos nosso jantar que uniria Minas Gerais e Egito.

Em seguida me servi de Canjiquinha com Costelinha, prato feito com milho triturado (quirera) e costelinha de porco que no caso foi frita na banha suína. Uma garrafa de Nora e outro jantar fantástico se encerrava com um cafezinho e pequenos losangos de fondant de doce de leite.

Nosso roteiro, no dia seguinte, incluiu visitar várias igrejas e o belíssimo museu do Ouro de Sabará. Resolvemos almoçar um sanduíche local feito com pão de queijo e recheado com pernil refogado em cebolas, alho, tomates e pimentões. A cerveja da vez foi a HB Original, uma Helles leve e de um dourado claro.

Mais alguns museus, sobe e desce nas ladeiras e alguns souvenirs comprados, pois nesse dia havíamos nos programado para jantar na própria pousada. Tomei uma canja de galinha (caipira obviamente) acompanhada de água mineral para dar um refresco para meu fígado (ufa) e assim poder encarar as duas jornadas finais: Mariana e Ouro Preto.

QUARTA PARADA – MARIANA

Mariana faz parte da 1a TOUR CERVEJEIRA BRASIL
Igrejas São Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo, Mariana-MG

No dia seguinte tomamos nosso café e caímos na estrada. Em 3 horas chegávamos a Mariana, que infelizmente ainda sofre consequências do transbordamento da barragem de Fundão. A Samarco está, no mínimo, protelando demais para ressarcir os prejudicados e tudo anda a passos muito lentos.

Mesmo assim, não foi difícil encontrarmos um produtor de queijos deliciosos, quase na entrada da cidade.

Queijos de leite cru, alguns com casca floral, outros com mofo azul, e até uma mussarela fresca conservada em soro. Compramos alguns, abastecemos nossa santa geladeira e seguimos rumo à pensão onde havíamos feito reserva.

Pelas ruas, ainda se consegue ver traços do desastre que Mariana sofreu.

Alguns comércios fechados e marcas da lama em várias construções. Parece que estão ali para não nos deixar esquecer o descaso dos responsáveis pela tragédia.

Nossa pensão era bem simples, mas muito limpa e graciosa. Conhecemos a senhora Maria das Dores, proprietária, gerente e cozinheira do lugar.

Mariana que ainda encanta…

Após nos instalarmos, fomos circular pela cidade, a primeira vila de MG.

Parte da Estrada Real e da Trilha dos Inconfidentes, Mariana foi uma das cidades mais importantes do ciclo do ouro no Brasil.

Conhecemos algumas igrejas, pontos históricos e no final do dia retornamos à pensão de dona Das Dores, que havia prometido preparar para o jantar uma de suas especialidades: pratos com ora-pro-nobis, uma PLANC, típica das Geraes.

Nosso jantar começou com uma entrada singela: ora-pro-nobis crocante.

As folhas são temperadas com azeite, sal e pimenta e levadas a uma frigideira de ferro. Quando começam a se formar algumas bolhas – cerca de 2 minutos – viram-se. Mais 2 minutos e está pronto o petisco. Ficaram ótimas com a Warsteiner Pilsner e serviu para abrir nosso apetite para a “piece de resistance” de dona Das Dores – frango caipira com ora-pro-nobis e arroz com açafrão da terra.

Abri algumas Erdinger Weissbier e todos entramos em êxtase. Que comida sublime. Que cerveja fantástica!!!

Na manhã seguinte partimos para nosso destino Final.

FINALIZANDO EM OURO PRETO

Deixei para o final da aventura os 2 pratos que eu mais aguardava: Feijão Tropeiro e Tutu de Feijão.

Nos instalamos na Pousada dos Ofícios que fica a menos de 1 km do centro histórico, a Praça Tiradentes.

Ouro Preto faz parte da 1a TOUR CERVEJEIRA BRASIL
Praça Tiradentes – local onde foi exposto ao público os restos mortais do Mártir Tiradentes

Antes de almoçar, optamos por um “rolê”. O calçamento de Ouro Preto, assim como o de quase todas as cidades que visitamos, é feito com pedras pé de moleque, lajotas grandes, cujas arestas são aparadas rusticamente e depositadas sobre o chão de terra formando um tipo de mosaico.

Isso escrito é até bucólico, mas caminhar sobre esse calçamento, subindo e descendo ladeiras, não é nada muito agradável.

Mas garanto a vocês que o sacrifício não foi em vão. Fomos almoçar no Restaurante Braúnas, na Praça Tiradentes.

Agora sim, um Tutu de Feijão com tudo que se tem direito.

Arroz soltinho, couve refogada, linguiças caseiras, torresmos crocantes e sequinhos e o Tutu em si um creme aveludado de feijão, muito bem temperado. Para esse almoço levei algumas garrafas de Eggenberg Hopfenkönig, essa austríaca hiper refrescante.

Como estávamos em Minas, não podia faltar um docinho com queijo de sobremesa. E a escolhida foi a goiabada cascão, numa preciosa versão do Romeu e Julieta

À tarde fomos nos encontrar com um amigo, o Claudinei, que saiu de São Paulo, encantou-se por Ouro Preto e fez carreira como professor naquela cidade. Hoje leciona arquitetura na Universidade Federal de Ouro Preto.

Claudinei nos levou para conhecer as belezas naturais das cercanias da cidade.

Riachos, cascatas, trilhas para carros, e muitas cervejas Paulistânia pelo caminho, saídas “trincando” de nossa geladeira.

Já passavam das 20h quando deixamos Claudinei em sua residência, uma casa colonial totalmente restaurada.

Para fechar com chave de ouro (preto)

Combinamos de nos encontrar mais uma vez pela manhã. Dessa vez fomos conhecer uma fazenda de búfalos.

Ali se produz uma das melhores burratas que já experimentei na vida.

Acompanhamos todo o processo de produção, desde a extração do leite até a finalização das “bolotas” de mussarela e de burrata fresquissimas.

Comemos algumas acompanhadas da Paulistânia Largo do Café.

Já falei dessa combinação neste blog e continuo apaixonado por ela.

Leia aqui: ITÁLIA 2 – COMIDAS DE GUERRA E CERVEJAS DA PAZ

Nosso “Gran Finale” foi um jantar no Restaurante Tiradentes, também localizado na Praça Tiradentes.

Pedimos Feijão Tropeiro e Leitoa assada, pururucada.

Para harmonizar, duas Rodenbach Grand Cru.

Que jantar, senhoras e senhores.

Ficamos ali comendo e bebendo muito bem, revivendo histórias do passado e rindo muito.

Saímos do Tiradentes repletos, mas felizes.

Voltamos todos caminhando, Claudinei para sua casa e nós para a pousada, não sem antes nos despedirmos com um apertado e fraterno abraço, desses que só aconteciam antes da pandemia.

E assim se encerrava nossa aventura pelas cidades da Rota do Ouro.

No dia seguinte zarpamos para São Paulo.

Nos revezamos ao volante e em 8 horas estávamos em casa.

Aliás, nos dirigimos para a casa do Toninho, onde eu havia deixado meu carro e ainda tivemos ânimo para comer os queijos que havíamos comprado em Mariana e Ouro Preto acompanhados por algumas Paulistânia que havíamos poupado.

Todas as cervejas que citei e mais todo o portfólio da Bier & Wein podem ser encontradas na Loja Online da Confraria Paulistânia

Até a próxima!

Afinal, cerveja é um produto vegano?

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Hofbräuhaus: a cervejaria mais influente do mundo

Hofbräuhaus: a cervejaria mais influente do mundo

Por Rodrigo Sena, jornalista, sommelier de cervejas especializado em harmonizações, técnico cervejeiro, criador de conteúdo para o youtube e o instagram @beersenses Recomendação de leitura: MATURAÇÃO NOBRE BÁVARA – O SELO DA DIFERENCIAÇÃO Não é uma história somente sobre cerveja. É uma história sobre poder, 

Selo Trapista – atribuição e reconhecimento.

Selo Trapista – atribuição e reconhecimento.

Por Leonardo Millen, jornalista especializado em lifestyle de luxo, turismo e gastronomia. Aficionado por cervejas especiais, escreve a coluna “Saideira” na revista Go Where (@saideira.beer) e é o editor-chefe do Mesa de Bar (www.mesadebar.com.br), o portal definitivo de notícias sobre bebidas que acaba de chegar ao mercado. Inclusive cerveja!

Um dos meus primeiros textos aqui para a Confraria eu falei das “Cerveja dos Monges” e contei toda a história das cervejas trapistas, ou seja, aquelas que são produzidas somente sob a supervisão de monges católicos beneditinos da Ordem Cisterciense da Estrita Observância.

Contei como foi o meu encontro com Isaac Majoor, o monge trapista, mestre-cervejeiro e diretor da La Trappe, em maio de 2019, em uma degustação da linha da cervejaria na Bier & Wien. Simplesmente épico!

LEIA AQUI: O SABOR DO SILÊNCIO!

O QUE É TRAPISTA

O nome trapista é derivado do mosteiro de Notre-Dame de La Trappe, na Normandia. É uma congregação religiosa beneditina que segue os preceitos de São Bento “ora et labora” (orar e trabalhar).

Os religiosos dessa ordem acreditam que “devem viver pela obra das próprias mãos”. Ou seja, eles encararam o trabalho manual e artesanal como uma forma de se aproximar de Deus. Eles oram e produzem algo que lhes dê subsistência, como produtos agrícolas, pães, biscoitos, queijos e… cerveja!

Como os Trapistas não visam lucro, a receita obtida com a venda da cerveja é destinada a pagar as contas e o que sobra é doado para a caridade.

Entretanto, dos mais de 170 mosteiros trapistas existentes no mundo, apenas 14 produzem cerveja. Confira a lista:

MOSTEIROS TRAPISTAS PELO MUNDO

Bélgica: Achel, Chimay, Rochefort (Namur), Orval, Westmalle e Westvleteren

Holanda: Konigshoeven (cerveja La Trappe) e Abdij Maria Toevlucht (Klein-Zundert)

Áustria: Engelszell

Itália: Tre Fontane (Roma).

Mapa cervejarias Trapista
Mapa cervejarias Trapista

EUA: St. Joseph’s Abbey (Spencer- Massachusetts)

Inglaterra: Tynt Meadow.

Espanha: Cardeña.

França: Mont-des-Cats.

SELO ATP

Para uma cerveja ser considerada Trapista, ela deve seguir regras rígidas:

SELO TRAPISTA

Ser feita dentro de um mosteiro dessa ordem, sua produção deve ser supervisionada por monges trapistas e todo o lucro obtido na venda deve reverter para a subsistência dos monges e para a caridade.

Para garantir ainda mais que nenhum aventureiro usasse o nome “Trapista” indevidamente e também para proteger que o termo não fosse associado a produtos que não pertencessem oficialmente à ordem foi criado e instituído, em 1997, o “selo ATP” (Authentic Trappist Product) pela Associação Internacional Trapista, que só o concede aos produtos dos monastérios que seguem à risca as três regras para obtê-lo.

Muita gente acha erroneamente que cerveja trapista é um estilo, mas não é. O selo serve exatamente para designar que o produto ou a cerveja que o estampa em seu rótulo é trapista. Uma espécie de “Denominação de Origem controlada”, como acontece com os vinhos “DOC”. E também para garantir a autenticidade. A licença ATP é válida por cinco anos e é emitida para um produto ou categoria de produtos.

O selo da confiança e procedência

O selo é realmente importante e bem sério porque, atualmente, ele atesta a procedência de uma série de produtos, sejam eles vinhos, pães, bolos, geleias, licores, velas, cosméticos e também cervejas.

Inclusive, das 14 abadias trapistas que produzem cerveja citadas anteriormente, três não possuem o selo ATP por não cumprirem as determinações.

Em Janeiro de 2021, a cervejaria Achel da Abadia de São Benedito, em Hamont-Achel, perdeu o selo ATP por não ter mais monges supervisionando a produção, um dos critérios para obtenção e manutenção do selo.

A espanhola San Pedro de Cardeña, de cerveja de mesmo nome, perdeu também o direito ao selo por ter sua produção sendo feita fora das paredes da abadia, em outra cidade. Pelo mesmo motivo, a Abadia de Sainte-Marie-du-Mont perdeu o selo da sua cerveja, a Mont-des-Cats, que é feita na fábrica da Cervejaria Chimay, porém seus queijos possuem o selo.

Por outro lado, a abadia holandesa trapista de Konigshoeven, que produz a cerveja La Trappe, é a que possui mais produtos com o selo.

Cervejas, queijos, pães, cookies, chocolates, geleias e até seu mesmo um mel! Eles podem ser adquiridos diretamente nas lojas próprias das abadias, mas também em revendedores credenciados no mundo inteiro, como é o caso (com a benção de São Bento!) da Bier & Wein.

Exagero? Não… Se você nunca provou uma La Trappe, meu amigo, dá uma navegada imediatamente no e-commerce da Confraria Paulistânia Store, escolha e encomende ao menos uma. Depois que você experimentar, concorde comigo que é o mais próximo de se aproximar de Deus…

LA TRAPPE

Vou te ajudar com algumas dicas dos estilos de La Trappe disponíveis no site da Confraria Paulistânia Store:

La Trappe Witte - logo cerveja trapista

. Witte  – cerveja de trigo bastante aromática, que remete a pimenta e cravo, frutada, com 5,5% de teor e 14 IBU (a La Trappe é a primeira trapista do mundo a produzir este estilo). Ideal para acompanhar peixes, frutos do mar, saladas e pratos leves

La Trappe Blond - logo cerveja trapista

. Blond  – é uma cerveja ale dourada, frutada e perfumada. É bem refrescante e companheira de todos momentos com 6,5% de teor e 20 IBU. Excelente para acompanhar peixes, queijos e saladas. Vencedora da categoria “Belgian-Style” do European Beer Star 2018.

La Trappe Dubel - logo cerveja trapista

. Dubbel – Ela é uma ale avermelhada escura, por conta do malte torrado, que dá a ela um dulçor lá no fundo, mas você acaba se deliciando com o aroma e aquela sensação de caramelo e passas, com 7% de teor e 22 IBU. Ótima para acompanhar uma tábua de frios. Vencedora da categoria “Belgian-Style” do European Beer Star 2018.

La Trappe Tripel - logo cerveja trapista

. Tripel – Uma cerveja ale clássica belga, loira, frutada, que remete ao damasco, e com um leve amargor (25 IBU), além de uma boa sensação de álcool (8% de teor). Dizem que as loiras são fatais. Então é melhor bebê-la em boa companhia.

La Trappe Quadrupel - logo cerveja trapista

. Quadrupel – É uma com uma cor vermelho/marrom linda, encorpada, potente, que remete à tâmara, nozes e cravo, muito gostosa e agradável, com 10% de teor e 22 IBU. Ela pode ser guardada mais tempo, para um dia mais frio ou para ser a última da sequência daquele jantar especial.

La Trappe Bock -

. Bock – Cerveja lager típica de inverno, mas sensacional. Ela tem uma cor escura, quase marrom, lupulada, aromática e com malte torrado que lembra chocolate e até café. É a única cerveja bock trapista com fermentação contínua na garrafa, com 7% de teor e 38 IBU. Se você comprar, tenho certeza que ela dança no primeiro friozinho que pintar.

La Trappe Isid’or - logo cerveja trapista

. Isid’or – Deus existe! Ela é uma ale de cor vermelho-alaranjada, frutada, suavemente doce com um toque de caramelo, 7,5% de teor e 27 IBU. Tem um ingrediente secreto: o lúpulo Perle, que é cultivado pelo próprio monastério. Ela é uma edição especial de 2009 comemorativa aos 125 anos da cervejaria e batizada em homenagem ao monge Isidorus, o primeiro mestre cervejeiro da abadia, que de tão maravilhosa entrou em linha. Você vai se sentir lá no monastério entoando cantos gregorianos…

família LaTrappe - monastério com selo trapista

Você encontra esses rótulos bem aqui, no e-commerce Confraria Paulistânia Store. Aproveite para dar uma navegada geral porque sempre tem informações sobre cervejas fabricadas e importadas pela Bier & Wein, além de, claro, promoções irresistíveis. Inclusive, tem kits que vem com uma La Trappe e uma taça especial, com a boca grande e borda dourada, que é linda e adequada para você saborear melhor essa maravilha dos Deuses.

Espero que tenha gostado e… boas cervejas!

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Olá meus amigos “amanti di la birra”

SOUTH STREET AMICI MIEI

Após alguns dias em Roma, alugamos um carro e partimos para a segunda etapa de nossa viagem rumo ao sul.

Confira o início dessa história: ITÁLIA 1 – “PIZZE, PASTA, DOLCI E BIRRE”

Resolvemos dar uma “esticada”,  para mais ao sul de Caserta, terra da família de Ernesto e nosso destino final, a fim de visitar nosso amigo e Chef Domenico Paolo, Paulinho para nós,  que atualmente vive em Castellabate.

Mapa Castellabate
Mapa Castellabate

A família de Paulinho tem uma propriedade – no Brasil chamaríamos de sítio – onde criam animais de pequeno e médio porte e cultivam vários produtos como azeitonas (fazem o melhor azeite que já provei na vida) vários tipos de legumes, verduras e frutos, dentre os quais tomates. E nossa visita coincidia justamente com a colheita dos pomodori, e o preparo secular para conservá-los, na forma de passata, um molho puríssimo que só é temperado quando de sua utilização em pizzas e massas, principalmente. Vale salientar que a viagem foi maravilhosa.

Ernesto assumiu o volante e eu aproveitei para tomar algumas Trooper IPA que comprei em Roma e deixei numa caixa térmica justamente para consumir durante a viagem.

Chegando em Castellabate, Paulinho estava aguardando na entrada da cidade em sua Vespa e nos conduziu até a propriedade de sua família.

A colheita dos tomates e a produção dos vidros e vidros de passata é uma verdadeira festa. Tudo é feito manualmente pela família e vizinhos e, enquanto trabalham, entoam canções típicas que se perpetuam há várias gerações.

A giornata levou o dia inteiro e, para coroar o dia, fomos convidados para jantar Pappa col Pomodoro, um tipo de sopa, bem densa, que se popularizou nos períodos de guerra pois é feita com pão velho o molho de tomates. Evidentemente seria usado o molho feito naquele dia, super fresquinho. Um dos vizinhos levou uma peça de queijo parmesão, que foi ralado imediatamente e é o terceiro ingrediente da receita. E eu ofereci algumas cervejas Paulistânia Marco Zero que havia levado do Brasil para esse fim.

Marco Zero e passata caseira, com essa combinação sua ceia nunca mais será a mesma!
Marco Zero e passata caseira, com essa combinação sua ceia nunca mais será a mesma!

Uma ceia simples mas muito saborosa. E a Marco Zero combinou divinamente com o frescor do prato.  Dá pra imaginar que estávamos comendo ingredientes que há poucas horas estavam plantados?

Caserta, estamos chegando!

Passamos a noite na casa do Paulinho e no dia seguinte, após um saborosíssimo café da manhã, que incluiu mini pizzas com molho e queijo produzidos ali, pegamos a estrada em direção a Caserta.

Antes de irmos para a casa dos tios de Ernesto, ele fez um desvio para me mostrar o Caseificio D’Anna, local onde se produz a “melhor mozzarela do mundo”, pelos critérios dele. E não é que Ernesto tinha razão!

Paulistânia Largo do Café
Paulistânia Largo do Café

Experimentei de cara as mussarelas de búfala. Assim que dei a primeira mordida minha boca se preencheu com um sabor de leite fresco! Corri para o carro e peguei uma Paulistânia Largo do Café, em temperatura ambiente mesmo. Que bela combinação!

O sabor do “café com leite” me transportou à infância. Só faltou um pão quentinho com manteiga derretendo. Mas não faltava não. Renata, a amável garota que nos atendeu providenciou fatias de pão italiano coroadas com a manteiga feita no Caseificio. Experimentei também a burrata que eles produzem…..algo dos deuses.

Ernesto comprou algumas mozzarellas e burratas e enfim nos dirigimos à casa de seus tios.

Benvenuto in famiglia

Nossa recepção foi digna de ser filmada. Aquela “italianada” havia preparado um “lanchinho” para nos receber. Frios, pães salgados e doces, com ou sem recheio, antepastos, geleias, queijos… e Ernesto ainda contribui com as mussarelas e burratas.

Para não me fazer de rogado, minha contribuição foi com cervejas brasileiras. Ofereci quase toda a linha da Paulistânia mas ainda guardei algumas para um próximo evento. Depois de quase 4 horas de muita conversa aos berros, música e comilança, fomos acomodados em dois quartos muito confortáveis.

No dia seguinte, tomamos um farto café da manhã e Ernesto, acompanhado por seu primo Giuseppe, que fez as vezes de nosso guia, me levou para um “city tour”.

Caserta é uma cidadezinha super simpática. Ali ha um Palácio lindo da época em que a cidade foi sede do Reino das duas Sicilias controlado pelos  Bourbons.

Durante o passeio, Giuseppe nos convidou para jantar em seu restaurante, onde nos serviria Pettola e Fagioli con Braccioline di Codena, um prato que leva massa parecida com a massa de lasanha, feita só com farinha e água e cortada a grosso modo (maltagliati), feijões brancos graúdos e essas braciolini que são pequenas brajolas feitas com a parte da pancetta que tem o couro do porco.

Paulistânia X

Esse também é um prato da época da guerra. Faltava a carne do porco mas usavam o couro da pancetta que após um longo cozimento ficava bem macio e saboroso.

Retornamos à casa de meus novos amigos para uma chuveirada e nos dirigimos ao restaurante. Eu havia guardado para uma ocasião especial algumas garrafas de Paulistânia X, uma Barleywine fantástica que passa por refermentação no método Charmat.

Após algumas bruschettas, queijos e azeitonas, Giuseppe mandou servir o prato principal. Difícil descrever essa mistura de sabores. Tudo se harmonizava à perfeição e a Paulistânia X foi elogiadíssima por todos. “Má questa birra non é un vino? ” – era o comentário de todos

Que jantar, meus amigos. Nunca esquecerei.

COMER, BEBER E APROVEITAR!

O dia seguinte nos aguardava com um lindo céu azul, sol de primavera e uma última aventura gastronômica. Eu queria conhecer a L’ANTICA PIZZERIA DA MICHELE (Via Cesare Sersale, 180139 – Napoli – +39 081.55.39.204) aquela em que Julia Roberts se refestela com uma pizza de dar água na boca no filme Comer, Rezar e Amar.

No caminho para Nápoles, Ernesto passou pelo Caseificio D’Anna, onde havíamos comprado as mussarelas no nosso primeiro dia em Caserta.

Conversou durante um tempo com a amável atendente Renata e saiu de lá com uma enorme bolsa térmica. Perguntei:

  • O que você está aprontando, Erné?
  • Prometi pro meu filho Vicenzo que levaria mussarelas e burratas daqui pra ele experimentar.
  • Mas a gente não pode entrar com isso no Brasil. A alfândega vai barrar.
  • Deixa comigo, Luiz.

Pois bem, pegamos a estrada rumo a Nápoles. Ernesto tem parentes lá também.

Passamos pela casa dos tios onde deixamos as mussarelas bem acondicionadas na geladeira e nos dirigimos para um pequeno passeio pela cidade que terminou na L’Antica

Pizzeria Da Michelle.

O lugar é muito pequeno. Tem pouquíssimas mesas e só serve dois sabores – margherita (massa coberta com molho de tomates  mussarela e manjericão) e marinara (massa coberta com um molho de tomates divinamente bem temperado, que fica marinando previamente com alho e condimentos deliciosos).

Chegamos por volta das 19 horas e a casa já estava lotada, com uma enorme fila de espera. Mas vi que dava para fazer um pedido no balcão e comer sentado na calçada. Foi o que fizemos.

Ah, algumas curiosidades. Ali se come a pizza com as mãos. As pizzas são individuais, mas dá pra “rachar” para duas pessoas, só que isso não é bem visto e a casa não vende bebidas alcoólicas. Compramos uma pizza de cada sabor. Enquanto Ernesto esperava nosso pedido sair, fui em busca de algum lugar que vendesse cervejas.

Encontrei uma lojinha que tinha cervejas Baladin (Grazie Teo Musso  novamente). Comprei duas Wayan – essa espetacular Saison do Birrificio. Quando voltei com as cervejas geladas e já abertas, Ernesto estava saindo com nossas pizzas quentinhas.

Nossa refeição foi ali na calçada em frente à Da Michelle. A massa das pizzas é grossa, crocante por fora e macia por dentro, mas sobretudo muito leve e saborosa. Foi a cereja do bolo de nossa viagem.

Antes de voltar a Caserta fomos buscar as mussarelas, obviamente.

BRASIL, ESTOU VOLTANDO!

No dia seguinte, arrumamos nossa bagagem e rumamos para o aeroporto de Roma. Devolvemos o carro alugado ali mesmo e não tivemos problemas no check in.

Antes de embarcar, compramos umas “bags” congeladas e reabastecemos a bolsa térmica que acondicionava os queijos, que viajou como bagagem de mão do Ernesto.  Nenhum problema no embarque e meu amigo entrou no avião com cara de vitorioso.

Após quase 12 horas chegamos ao Brasil.

Pegamos nossa bagagem e nos dirigimos à Alfândega. Nessa hora Ernesto sorridente pegou seu celular e ligou para o filho Vicenzo, que nos aguardava na saída do desembarque.

  • Vicenzo, eu trouxe as mozzarellas.  Me aguarde.

Eu segui com minha bagagem à frente de Ernesto, apertei o botão e acendeu a luz verde. Enquanto eu caminhava, ouvi a característica campainha da luz vermelha. Me subiu um frio na espinha: a bagagem de meu amigo seria inspecionada. Os fiscais da alfândega solicitaram gentilmente que Ernesto abrisse todas as malas e quando chegaram na bolsa termica já disseram:

  • O senhor não sabe que é proibido trazer alimentos frescos?
  • Sim, mas essas mussarelas são um presente de meus parentes…
  • Não tem jeito senhor. Teremos que apreender essa mercadoria

A Essa altura  meu amigo já estava com o rosto vermelho, gesticulando e gritando,  como um bom italiano:

  • Vocês não vão ficar com minhas mussarelas. Meu filho vai ficar doente se não comer.
  • Não tem jeito senhor  temos que cumprir a lei. Essa carga não vai sair daqui.
  • Dane-se a lei. Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé. Vou buscar meu filho ali no desembarque e ele vai comer aqui. Luiz, não deixe ninguém encostar nas mussarelas.

E saiu feito um doido, deixando todos boquiabertos e sem reação. Dali a pouco Ernesto volta com seu filho. Não sei como ele conseguiu mas Vicenzo estava ali  na minha frente:

  • Pronto filho, come o quanto quiser

O rapaz pegou uma bolota daquelas e devorou em 3 ou 4 mordidas.

  • Agora come a burrata

Novamente Vicenzo devorou o queijo  se lambuzando todo com o recheio cremoso.

  • Coma mais, coma mais.

E lá se foram mais algumas bolotas pro estômago de Vicenzo.

  • Chega pai, não aguento mais

Isso tudo acontecendo nas fuças dos fiscais boquiabertos e sem nenhuma reação. Quando Vicenzo se satisfez, Ernesto praticamente pulou para detrás do balcão onde estavam os fiscais, pegou um frasco de um líquido viscoso, cor violeta, que provavelmente era um tipo de tinta para carimbos e derramou sobre todos os queijos que haviam sobrado dizendo:

  • Se minha família não vai comer, ninguém vai comer.

Acreditem, essa cena aconteceu e ninguém foi sequer detido! Saí de lá ainda incrédulo mas rindo muito.

Como sempre, todas as cervejas que citei e mais um portfólio delicioso você encontra em bares e restaurantes no Brasil e na Loja Online da Confraria Paulistânia.

Até a próxima!