Um paraíso chamado Bélgica: Independente desde 1830 e cervejeira desde sempre.

Um paraíso chamado Bélgica: Independente desde 1830 e cervejeira desde sempre.

Por Aline Araujo, Sommelière de Cervejas, professora e empresária com formação em administração de empresas e especialização em marketing. Mais de 10 anos de experiência no mercado de bebidas.

CERVEJEIRA POR NASCIMENTO

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Se você se considera um verdadeiro apaixonado por cervejas, com certeza já admira e compreende a importância da Bélgica para formação e consolidação histórica desse fermentado incrível.

Mapa da Bélgica
Mapa da Bélgica

A verdade é que a conexão que esse pequenino e surpreendente país (que tem um território menor que o estado do Rio de Janeiro e pouco mais de 11 milhões habitantes) tem com as cervejas é realmente fascinante, a começar pelo extraordinário número de mais de 200 cervejarias e 1500 marcas de cervejas diferentes que podemos encontrar por lá.

Números admiráveis, que ajudam a consolidar a Bélgica como um país que carrega a cerveja para muito além das fronteiras do consumo etílico, mas sim como parte de uma herança cultural, que ajuda a contar toda a história de um país.

Não à toa, em 2016, a cerveja belga entrou oficialmente para a seleta lista de patrimônio imaterial da Humanidade pela UNESCO.

CERVEJA, WAFFLES E MUITO MAIS

Além dessa miríade de cervejarias, incluindo alguns dos mais relevantes mosteiros trapistas do mundo, a Bélgica também é conhecida pela sua gastronomia, que transcende os triviais waffles e batatas fritas, passando por chocolates sofisticados, uma produção de queijos variada e requintada e ainda uma culinária fartamente influenciada pela vizinhança francesa.

 waffles

Estudar a história da Bélgica é beber na fonte da formação de uma das mais prestigiosas escolas cervejeiras reconhecidas mundialmente, a escola “Franco Belga”.

E é justamente por fazer divisa com nações tão abastadas em cultura e gastronomia e com uma culinária tão diversa e complexa quanto o número de rótulos cervejeiros, que a escola belga malandramente aprendeu a flertar com o mundo dos vinhos, com estilos de cervejas que por vezes nos fazem questionar se estamos mesmo diante de um fermentado de cereais ou de frutas e com um cuidado no serviço, temperatura e escolha dos copos que deixaria qualquer sommelier de vinhos deveras impressionado.

Para entender como essa história foi fundamentada, que tal viajar comigo na máquina do tempo, atingindo o período da Idade Média, passando pela data da Independência da Bélgica e chegando por fim, aos dias atuais? Aperte os cintos e vamos lá:

BÉLGICA, DO LATIM…

Interessante pensar que o nome “Bélgica” foi dado pelos romanos que chegaram na região através das afamadas tropas lideradas por Júlio César.

Em latim belgae, era a expressão para se referir à um grupo de ferozes tribos celtas. Segundo linguistas, o nome deita raízes nas palavras proto-celtas ‘belg’ e ‘bolg’, que significam inchar de raiva.

Essa tribo se estabelecera na parte ao Norte daquela região, anteriormente conhecida como Gália, por volta do século III a.C e que posteriormente seria nomeada de Gália Belgica por conta dos povos habitantes da região.

De todas as tribos da Gália, os belgas foram assim descritos por Júlio César por serem efetivamente os mais bravos e por ser o povo mais difícil de conquistar de toda a região. César enfrentou uma grande e poderosa resistência, levando quatro anos para conseguir finalmente conquistar as tribos de Belgae no ano de 53 aC.

Mapa do império romano
Mapa do império romano

No que diz respeito à origem, houve grandes debates entre estudiosos, historiadores e pesquisadores sobre se os belgas eram realmente de origem celta, germânica ou se surgiram a partir de tribos mistas. Curiosamente, algumas fontes sugerem que os próprios Belgaes também não sabiam ao certo a que grupo pertenciam.

CERVEJA NA IDADE MÉDIA BELGA

Durante o período da Idade Média, momento que os hábitos de produção e consumo de cerveja ganharam ainda mais notoriedade (graças especialmente aos estudos científicos e trabalho dos monges católicos, em especial os Beneditinos, que formariam mais para frente a afamada ordem trapista), que a Bélgica fora dividida em microrregiões chamadas de feudos, como o Condado de Flandres, o Ducado de Brabante e o Principado de Liège.

Já na região portuária, nas atuais cidades de Brugge e Gent, víamos crescer e se desenvolver uma classe comerciante burguesa. A prosperidade da burguesia fez com que rapidamente essa região conquistasse a independência dos senhores feudais, da monarquia francesa e do então império germânico, que os outros feudos ainda tinham que se submeter.

Durante os anos seguintes, a região que hoje pertence à Bélgica, ganharia a fama de “campo de batalha da Europa”, pois aquele território se tornaria palco de diversos confrontos, entre eles, diversas disputas que tornariam a Guerra dos Cem Anos um grande marco na história da Europa devido à momentos como a Guerra de Sluis, quando o então rei francês perdeu toda a sua tropa. Posteriormente, outras tantas batalhas como as de Oudenaarde, Malplaquet, Ramillies, Jemappes, Waterloo, Ypres e Bastogne ocorreriam também em território belga.

Já no final da Idade Média, os então países Bélgica, Holanda e Luxemburgo se unificariam nas chamadas “XVII Províncias”, que pertenciam então aos Duques aos Imperadores Habsburgo e finalmente aos reis da Espanha.

Com a chegada do Protestantismo no século XVI, houve uma separação das províncias do Norte, que se tornaram independentes, formando o Reino dos Países Baixos. Já as províncias do Sul permaneceram sob domínio espanhol católico até o ano de 1713, quando foram tomadas pelo Império Austríaco e nomeada Países Baixos Austríacos para em seguida ser denominada Bélgica.

DA BATALHA A INDEPENDENCIA

Assim como com outros países da Europa, a Bélgica também foi invadida pelas tropas de Napoleão Bonaparte na Revolução Francesa e tornara-se parte do Império Francês em 1792.  

Quadro representando a Batalha de Waterloo
Quadro representando a Batalha de Waterloo

Um marco importante na história da Bélgica Independente foi a batalha de Waterloo, travada em 1815 nos arredores de Bruxelas e que derrotou Napoleão.

Na ocasião, as potências vitoriosas da Grã-Bretanha, Áustria, Prússia e Rússia se reuniram em Viena para redistribuir a influência e negociar a jurisdição dos territórios nos próximos anos. Por decisão, a região então austríaca foi unificada a à Holanda formando o Reino Unido dos Países Baixos, tornando a Bélgica uma nação sob domínio holandês.

A decisão não foi assertiva, uma vez que a região estava sofrendo enorme pressão devido ao fato de que as pessoas no Norte eram principalmente protestantes, enquanto os indivíduos no Sul eram católicos. Além disso, havia também uma divisão linguística entre os valões, cuja língua é o francês, em oposição ao flamengo, cuja língua materna é o holandês, ocasionando grandes desavenças por conta desse conflito idiomático, acarretando em mais uma posterior rebelião dos belgas contra essa supremacia holandesa.

Após esses eventos, as grandes potências do Congresso de Viena se reuniram mais uma vez em Londres em 20 de dezembro de 1830 e não tiveram escolha a não ser reconhecer o sucesso da revolução belga e garantir sua independência que fora finalmente conquistada.

No dia 21 de julho de 1831, o então príncipe Leopoldo de Saxe-Coburgo-Gotha tornou-se Rei dos Belgas, em um regime de monarquia parlamentar com segmentação dos poderes entre legislativo, executivo e judiciário. A data de sua posse passou a ser o dia nacional da Bélgica, selando uma nova era da Bélgica moderna.

Rei Leopoldo de Saxe-Coburgo-Gotha
Rei Leopoldo de Saxe-Coburgo-Gotha

Os anos seguintes seriam muito prósperos para a Bélgica devido ao seu desenvolvimento econômico e industrial. A Bélgica se classificaria na segunda metade do século XIX, entre as principais economias do mundo, com PIB próximo ao dos Estados Unidos na época.

A Bélgica seria novamente parcialmente ocupada durante a II Guerra Mundial pela Alemanha no ano de 1940. Com governo exilado e exército rendido, os anos seguintes o comportamento da população foi semelhante ao dos outros países ocupados como a Holanda, França, Noruega e Dinamarca e a maior parte da população lutava para sobreviver.

Nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, e em grande parte inspirado pelo desejo de ver um fim às guerras recorrentes entre seus vizinhos, que foram muitas vezes combatidos em seu solo, a Bélgica tornou-se um dos pioneiros na unificação europeia.

A BÉLGICA HOJE

Nos dias de hoje, a Bélgica é um país formidável, que movimenta turistas do mundo todo, atrás da cultura, arte, gastronomia, história, arquitetura, entretenimento que tornam esse país tão especial.

Como não poderia deixar de ser, eu como devota das cervejas belgas, não poderia deixar de mencionar e dar destaque absoluto à infinidade de tipos de fermentação, técnicas, estilos, rótulos, sabores e possibilidades que essa riquíssima escola cervejeira pode nos entregar.

LEIA TAMBÉM: BÉLGICA, ALÉM DAS CERVEJAS TRAPISTAS

Hoje, quero aproveitar e falar especificamente sobre um estilo apaixonante, versátil e democrático que é o estilo Witbier e dar a dica da promoção no site da Confraria Paulistania da Corsendonk Blanche, uma cerveja de trigo leve legitimamente belga, saborosa, condimentada e cítrica com espuma cremosa e deliciosamente frisante.

O estilo Witbier conta a história das cervejas condimentadas da Idade Média, época em que o lúpulo ainda não era tão difundido.

A escolha assertiva e cirúrgica dos ingredientes que iriam temperar a cerveja era tarefa dos monges. A sabedoria desses religiosos em dominar agricultura, botânica e os segredos funcionais por trás de cada insumo, criava receitas herbais secretas chamadas de gruit, que eram utilizadas para conservar a cerveja, com as propriedades bacteriostáticas, antioxidantes, fungicidas e aromatizantes dos insumos selecionados para formar o gruit.

O estilo Witbier é um delicioso sobrevivente desse período, com sua delicadeza e maciez oriunda do trigo não maltado da receita, gentilmente temperado com sementes de coentro, uma poderosa especiaria com propriedades antioxidantes e com a adição certeira de cascas de laranja, que com seus potentes óleos essenciais, trariam aromas complementares ao estilo, além de funcionar com um conservante natural. Uma cerveja clássica para qualquer ocasião.

Que tal aproveitar a promoção do nosso site e adquirir essa deliciosa cerveja de trigo para brindar a essa a envolvente história da Bélgica?

Conheça a Corsendonk Blanche e me conta o que achou,

Saúde ou, como se diz na Bélgica que fala francês: Santé!



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