STO AGOSTINHO – O PADROEIRO DOS CERVEJEIROS

STO AGOSTINHO – O PADROEIRO DOS CERVEJEIROS

Por Candy Nunes, Sommelière de Cervejas, Mestre em Estilos, Técnica Cervejeira e apresentadora –  @candysommeliere

Certamente você deve estar se perguntando: “– Mas afinal quantos são os santos padroeiros dos cervejeiros?” Sua pergunta é bastante pertinente e de fato são inúmeras as correlações entre clérigos que produziam cerveja e sua santificação junto a essa bebida sagrada.

Mas antes de contar a história de Santo Agostinho, quero citar outros fatos que fazem a cerveja ser tão intimamente ligada não apenas as santas e aos santos católicos, mas as deusas e aos deuses, desde que a humanidade experimentou pela primeira vez esse néctar divino.

DEUSA SUMÉRIA DA CERVEJA

Os Sumérios foram uma das primeiras civilizações humanas, e não por coincidência, a primeira a produzir cerveja há uns 9.000 anos, na então Mesopotâmia, hoje fica o Sul do Iraque e Kuwait.

Já nessa época o precioso líquido tinha uma deusa que o representava, Ninkasi.

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Deusa Ninkasi
Deusa Ninkasi

No Egito, o Faraó – meio rei, meio deus – Ramsés III ficou conhecido como o faraó-cervejeiro, após doar aos sacerdotes do Templo de Amon o equivalente a um milhão de Litros de cerveja.

AOS OLHOS DE CERES

Os romanos e gregos aprenderam a fazer cerveja com os egípcios, e a bebida logo ganhou popularidade.

Eles também tinham uma deusa, Ceres.

Deusa da agricultura, seu nome originou a palavra cerveja, que significa “Aos olhos de Ceres”.

Sabemos, contudo, que o Cristianismo e a Igreja Católica, trouxeram a produção de cerveja para dentro dos mosteiros.

Os monges tornaram-se grandes produtores de cerveja, trazendo cada vez mais receitas elaboradas e espetaculares.

Desde então a história da cerveja e a história da Igreja Católica andam de mãos dadas.

Mas hoje o dia é dele, Sto Agostinho!

Se você, assim como eu, não consegue ouvir Agostinho sem pensar no personagem trambiqueiro, Agostinho Carrara do seriado nacional A Grande Família, saiba de uma coisa, aqui temos a verdadeira antítese dessa referência.

mapa Souk Ahras
Souk Ahras – mapa atual

Nascido em Tagaste, atual Souk Ahras, na Argélia, no ano de 354, Agostinho de Hipona se tornou bispo aos 33 anos, após abraçar a religião cristã no ano de 387, final do Império Romano do Ocidente. 

Em sua busca pela Verdade, o então Aurélio Agostinho buscou nas antigas filosofias pré-cristãs e pagãs a verdadeira sabedoria que, de acordo com ele, era o caminho para a verdadeira felicidade.  

Santo Agostinho acreditava que em nossa alma já residia a verdade e caberia a nós, seres humanos imperfeitos, porém reflexos da criação divina, encontrar e compreender a tal verdade eterna.

Seu interesse pela filosofia o guiou pelos caminhos do Maniqueísmo durante boa parte da sua vida acadêmica. Durante os anos 373 e 374, Agostinho ensinou gramática em Tagaste. No ano seguinte, mudou-se para Cartago a fim de ocupar o cargo de professor da cadeira municipal de retórica, e permanecerá lá durante os próximos nove anos.

Agostinho de Hipona, então se muda de Cartago para Milão. Em Roma, ele relata ter completamente se afastado do maniqueísmo, e abraçou o movimento cético da Academia Neoplatónica. Sua mãe insistia para que ele se tornasse cristão e seus próprios estudos sobre o neoplatonismo também foram levando-o neste sentido.

No verão de 386, após ter lido um relato da vida de António do Deserto, de Atanásio de Alexandria, que muito inspirou-lhe, Agostinho sofreu uma profunda crise pessoal. Decidiu se converter ao cristianismo católico, abandonar a sua carreira na retórica, encerrar sua posição no ensino em Milão, desistir de qualquer ideia de casamento, e dedicar-se inteiramente a servir a Deus e às práticas do sacerdócio.

UMA VOZ TRANSFORMADORA

A chave para esta transformação foi à voz de uma criança invisível, que ouviu enquanto estava em seu jardim em Milão, que cantava repetidamente, “Tolle, lege”; “tolle, lege” (“toma e lê”; “toma e ler”).

Ele tomou o texto da epístola de Paulo aos romanos, e abriu ao acaso em 13:13-14, onde lê-se: “Não caminheis em glutonerias e embriaguez, nem em desonestidades e dissoluções, nem em contendas e rixas, mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis a satisfação da carne com seus apetites

Ele narra em detalhes sua jornada espiritual em sua famosa Confissões (Confessions), que se tornou um clássico tanto da teologia cristã quanto da literatura mundial.

O Bispo Ambrósio de Milão, batizou Agostinho juntamente com seu filho, Adeodato, na vigília da Páscoa, em 387 e logo depois, em 388 ele retornou à África. Em seu caminho de volta à África sua mãe morreu e seu filho, deixando-o sozinho, sem família.

Na África, quando completou 35 anos, Santo Agostinho vendeu todos os bens (exceto uma propriedade) e criou para si um espaço de reflexão dedicado exclusivamente à teologia, filosofia e… produção de cerveja! Conhecido por ser um grande apreciador da bebida, passou a levar uma vida mais moderada, porém sem deixar de consumi-la.

Infelizmente, embora tenha registrado em seus escritos a respeito de sua produção e consumo de cerveja, o Santo não deu muitos detalhes sobre o assunto. Isso se deve, provavelmente, ao fato de a atividade cervejeira ser muito restrita aos sacerdotes na época.

Embora muitos outros religiosos da época que viviam em monastérios também confeccionassem cerveja para consumo e sustento próprio, Santo Agostinho, por seu alcance e importância, acabou se tornando ao longo da História um dos padroeiros da bebida.

Imagem Sto Agostinho – abençoado seja a cerveja nossa de cada dia

Em reconhecimento à sua importância, muitas cervejarias e rótulos têm nomes inspirados nele, em diferentes países como na Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos.

santo padroeiro dos cervejeiros

Santo Agostinho de Hipona é considerado pela igreja católica como o primeiro santo padroeiro dos cervejeiros.

Depois dele, outros clérigos também dedicaram parte de suas vidas à produção cervejeira, o que foi essencial para o desenvolvimento da bebida como conhecemos hoje. Alguns deles são São Columbano, São Venceslau, Santo Arnaldo de Soissons e Santa Hildegard Von Bingen.

Para homenagear essa personalidade tão representativa, com uma história marcante para os rumos civilizatórios da humanidade, escolhi uma cerveja que representa os dois lugares mais importantes na vida de Sto. Agostinho, Africa e Itália.

Nada mais nada menos que a Baladin Nora. Uma Specialty Egyptian Ale, produzida na pequena cidade de Piozzo na Itália.

Baladin Nora - foto por Candy Nunes
Baladin Nora – foto por Candy Nunes

Esta cerveja verdadeiramente original, em sua fabricação são utilizados ingredientes como o cereal egípcio kamut, gengibre e mirra, resina aromática extraída de árvore africana.  De cor dourada profunda com reflexos acobreados, levemente turva e de espuma fina.

Um caleidoscópio de aromas que se fundem num único e agradável buquê de notas frutadas, resinosas e amadeiradas – além de uma nota de incenso – surpreende cada vez que o copo se aproxima do nariz. Na boca o cereal se destaca, antecipando as notas de damasco, avelã e mel. Uma explosão de sabores que termina com a frescura da raiz de gengibre e ligeiras notas cítricas num final de especiarias e malte.

Conheça a Baladin: A ITÁLIA EM SÃO PAULO

Seguinte: entre agora no site da Confraria Paulistânia Store, que por sinal está com promoções incríveis, escolha a cerveja da sua preferencia para homenagear o padroeiro dos cervejeiros. São muitas opções pra santo nenhum botar defeito. Saúde!



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